“Eu tenho tentado ficar mais distante possível das redes sociais, porque isso não me faz bem”. A mensagem poderia ser de qualquer pessoa que se preocupa com os problemas que o excesso de informações das redes sociais pode causar na vida alguém, no entanto, o contexto é um pouco diferente.
Ana Paula, empresária no ramo do turismo destinado para brasileiros em Vegas (@eunagringa), tem aproveitado a última semana em quarentena, para ficar com seus três filhos e curtir com a família. O isolamento é uma medida adotada em diversos lugares do Estados Unidos devido ao surto de infecções do novo Coronavírus, o COVID-19.
“É um conselho que eu dou para todo mundo e é uma recomendação do próprio governador do estado de Nevada: se desliguem das redes sociais. Temos que parar de mexer com isso e se concentrar no que é essencial para nossa vida, que é a família da gente.”, afirma Ana.
Conhecida por sua agitação noturna e atrações divertidas, Vegas assumiu a quarentena obrigatória como uma forma de evitar mais contaminações feitas pelo vírus que já está presente em todos os estados norte-americanos. Conversei com Ana Paula na última sexta-feira, dia 20 de março, para compreender como a cidade está lidando com as novas medidas sanitárias.
O Nego: Cassinos e hotéis fechados, como a cidade parece estar se comportando com o “silêncio” desse complexos gigantes?
Ana Paula: Para mim, que trabalho diretamente na Strip, é complicado, porque a gente trabalha com o turista. Ontem eu passei pela Strip e está tudo apagado, de verdade, parece uma “rua-fantasma”. Apesar de Las Vegas não se resumir na avenida, ela é o talismã, é o que faz chamar os turistas.
A Las Vegas Strip está realmente toda apagada e passa uma sensação de tristeza. Vegas é uma cidade cheia de vida, que reúne um monte de gente feliz, todo mundo procurando comemorar e ter momentos maravilhosos e, quando você passa por ali, não vê ninguém. Somente carros transitando de um lado para o outro e, dos 100 carros que passavam, o fluxo caiu para 10.
ON: Você já encontrou dificuldade em acessar algum serviço? Ainda dá para pedir comida ou utilizar o transporte urbano?
AP: Eu não tive nenhum tipo de dificuldade para acessar qualquer serviço após o decreto do governador para quarentena. O transporte urbano eu nunca utilizei em Vegas, então não sei piorou a qualidade, mas aparentemente está funcionando normal. Lifty e Uber estão funcionando também, essa categoria não parece ter sido afetada pelas medidas.
Os serviços de delivery ou mesmo comprar para viagem, continuam normal. Bancos, gás, energia, policia, bombeiro, hospitais: tudo funcionando normalmente. O resto dos serviços estão fechados, coisas que podemos chamar de mais “fúteis”, como salões de beleza, serviços de manicure e pedicure.
As escolas das crianças também estão fechadas. Eu já não havia deixado elas irem uma semana antes do governo declarar a suspensão do ensino. Posso dizer que 95% do comércio está fechado, apenas os serviços que já citei permaneceram abertos.
ON: Existe algum movimento de turistas na cidade ou realmente tudo parou?
AP: Na segunda, dia 16, fiz um casamento com um pessoal que precisava voltar para Los Angeles. Eles conseguiram voltar e adiantar o voo que era só pra dia 31 desse mês e eles puderam ir antes. Mesmo assim, eles conseguiram, lá em Los Angeles, visitar Hollywood, calçada da fama e outros lugares.
Agora, aqui em Las Vegas, eu não vi mais ninguém desde de terça-feira passada, dia 17 de março. Depois dessa data, que foi meu último trabalho, não vi mais nenhum movimento. Principalmente porque, na meia-noite entre terça e quarta, o governador pediu para fechar todos os cassinos. Não somente os cassinos, como qualquer lugar de gambling, como os bares que são vídeo-poker.
ON: Como está a questão do abastecimento de comida e produtos de higiene? Sentiu falta de algo?
AP: Como brasileiros, temos hábitos alimentares diferentes dos norte-americanos. Mesmo que a gente viva aqui há alguns anos, ainda comemos as mesmas comidas: arroz e feijão. Isso não se acha no mercado, porque já é uma coisa que não vinha com grande proporção, porque o público que come isso são os hispânicos. Tudo que tinha, a galera comprou.
Porém, eu encontrei uma outra alternativa: comprei tudo pela Amazon. Eu senti dificuldade nas lojas físicas sim, mas depois, usando a cabeça e com mais tranquilidade, fui acessar a Amazon e procurei por empresas que fornecem esses tipos de alimentos.
Ainda tem bastante carne em alguns mercados. Se for em grandes redes, como o Walmart, você vai encontrar tudo bem desfalcado, mas em mercados menores, você encontra uma grande leva de carne. Semana passada eu comprei no Marketon, que é um mercado mexicano aqui em Vegas, e eu fiquei surpresa com a quantidade de carne que havia lá.
ON: Está em contato com outros brasileiros ou estrangeiros? Como eles estão recepcionando essas medidas sanitárias preventivas?
AP: No meu atual círculo de amigos, que devem ser por volta de 11 casais, todos estão em casa. Temos nos falado através de facetime e a gente não se encontra pessoalmente de maneira nenhuma. Quando saímos é apenas para ir aos mercados que, inclusive, estão lotados de frutas e legumes, todos encontramos em grande quantidade.
Já meus clientes, não. Ninguém está mais na cidade. Acredito que deva ter algum turista ou outro perdido por não ter conseguido reagendar voo ou deve estar esperando algum chamado. A irmã de um dos meus melhores amigos, que mora aqui, vai voltar no domingo, 22 de março. Ela é a única brasileira que me lembro que vai voltar para o Brasil nos próximos dias. O aeroporto está bem vazio e vemos isso nas notícias e notificações que recebemos.
2 Comentários
Meu Deus , não posso imaginar aquela cidade maravilhosa toda apagada . É triste demais ver essas cidades turísticas e que adoro assim desertas . Minha viagem de Maio será reagendada para Setembro se tudo der certo . Oremos !!!!
Sim, é realmente muito triste, mas vamos pensar que é um “mal” necessário que vai evitar muitas contaminações. Tenha uma boa sorte com sua viagem! Espero que dê tudo certo.